MEU LEMA

Thursday, March 28, 2013

EXISTE RECOMPENSA PARA VOLUNTÁRIOS EM PRESÍDIOS ?



Em primeiro lugar abordarei algumas peripécias no caminho de quem se predisponha a este tipo de voluntariado. A jornada de um voluntário disposto a efetuar uma visita fraterna ao presídio começa por volta das 13:00 horas quando estará pronto para a saída de Goiânia com a previsão de chegada ao local por volta das 13:45 horas. Marcamos um ponto de encontro nas proximidades do posto avançado (a cargo dos policiais militares), onde fazemos a prece inicial e algumas recomendações. Depois da revista dos veículos no posto avançado teremos acesso ao estacionamento. Antes da chegada nas alas internas do presídio para o encontro fraterno com os reeducandos teremos que passar pela revista eletrônica e pelos portões de acesso às diversas alas.
Numa situação normal alcançaremos as alas internas por volta das 14:30 h, isto devido aos possíveis atropelos que vão desde  a lentidão do sistema de conferência eletrônica às interrupções provocadas pelas  operações de entrada e retirada de presos. Neste período chuvoso ficamos desprotegidos visto  que não há cobertura entre as alas, sendo que a passagem para as mesmas é feita a céu aberto. Também não existem passarelas ou calçadas que sirvam de acesso às alas, obrigando os passantes a pisarem no barro ou na lama. Na Ala “C” que é considerada uma das melhores, a situação é complicada. O amontoado de barracas montadas no pátio é assustador, parecendo mais uma favela a céu aberto. As gambiarras proliferam, os tanques de lavar roupas, os varais cheios de roupas, os barracos cobertos com telha eternit que servem para acomodar espaços  de convivência, desde mesas de jogos de carteado, barbearia, lanchonete, tudo improvisado pelos reeducandos.
Há cerca de vinte e cinco anos o Grupo Fraterno Espírita vem realizando visitas na P.O.G. - Penitenciária Odenir Guimarães. Nos primeiros anos as visitas eram semanais e aconteciam em um galpão coberto nos fundos da ala “C”. Num determinado dia alguém resolveu isolar aquela área. Desde então a única opção tem sido a sombra abençoada de uma mangueira na ala “C” onde as reuniões acontecem todos os segundos sábados de cada mês.
Há cerca de uns quatro anos desdobramos um grupo para a ala “A”. Começamos as reuniões nesta ala debaixo da sombra de uma mangueira, mas os próprios reeducandos nos convidaram para utilizarmos uma sala destinada aos cultos evangélicos. Não pensamos duas vezes e adotamos o novo espaço visto que não há choque de horários. Nesta sala tudo é precário, desde o piso, a iluminação, o telhado, a infiltração nas paredes, as portas deterioradas, não existe um banheiro, tudo ali cheira a mofo e abandono.  Infelizmente não registramos ao longo dos anos no espaço físico das alas visitadas nenhuma melhoria.
O voluntário envolvido nesta atividade gasta de cinco a seis horas desde a saída até o retorno. Por todo este período fica privado do uso de um banheiro nem mesmo para uma necessidade ligeira, pois desde o momento em que adentra ao presídio não há banheiro disponível, situação esta vem afastando os candidatos a voluntários. 
O que nos mantém nesta atividade depois de tanto tempo enfrentando os óbices do caminho? Existe compensação neste tipo de voluntariado? Acreditamos na resposta positiva, pois todas as vezes que encerramos uma jornada nos comprometemos com a próxima. A necessidade de continuarmos desenvolvendo um trabalho de aperfeiçoamento íntimo e social; a bondosa assistência dos benfeitores espirituais nos dá a segurança e a certeza dos resultados alcançados tanto para os assistidos como para o pessoal voluntário.
Encontramos no manual de apoio SAPSE - Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita - Cap. 5 – item 5.2.2.3 um roteiro seguro para os que pretendem atuar como voluntário juntos aos reeducandos do sistema prisional: * considerar o assistido sempre como um ser humano integral nos seus aspectos físico-psíquico-social e espiritual, vendo-o como membro de uma mesma família. Na vivência do “amai-vos uns aos outros” recomendado por Jesus, respeitaremos a individualidade do assistido, aceitando-o como é, ajudando-o a reabilitar-se, estimulando-o a sair de sua situação de acomodação e a se desenvolver.

FRANCISCO DE ASSIS ALENCAR